Ansiedade, stress, cobranças e responsabilidades: esses são alguns sentimentos que os jovens enfrentam ao descobrir o mundo universitário. É no início da vida adulta que muitos passam a ter acesso ao consumo de bebidas alcoólicas ao mesmo tempo que descobrem novas sensações, formas de diversão e prazer; além de ser um fator que contribui para a construção de relações interpessoais no meio universitário.
O consumo do álcool e outras drogas está presente desde os trotes universitários. Fazem parte também das festas que são feitas na Universidade de Brasília (UnB), que acabam tendo distribuição de bebidas. Para a professora Maria Inês Conceição, do Instituto de Psicologia (IP), não deveria existir bebida alcoólica dentro do campus, seja para professor ou para aluno. “Este é um ambiente de acolhimento, busca de conhecimento e socialização sim, mas não precisa passar necessariamente por esse outro caminho. Os alunos não veem com bons olhos o fato de não beberem, socializar e ter esses momentos. ”
Segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de álcool por pessoa no Brasil chegou a 8,9 litros em 2016 e superou a média internacional, de 6,4 litros per capita. Isso pode estar relacionado a questões biológicas, sociais e psicológicas. No entanto, não se pode afirmar definitivamente o que leva ao jovem à decisão de ingerir ou não bebidas alcoólicas. O modo com que cada um lida com a bebida e as relações com as pessoas do seu meio de convivência podem ser fatores a serem considerados nesse processo.
A OMS não vê o consumo do álcool em si como um problema, mas considera que o uso excessivo e a falta de controle em certas situações podem causar prejuízos. No Brasil, dados estatísticos demonstram que o álcool é responsável por 47% dos acidentes de trânsito (principal causa de morte entre jovens), 41% dos homicídios e por um número expressivo de assassinatos, brigas e suicídio. O excesso de drogas legais e/ou ilegais é reconhecido mundialmente como um problema real que afeta a humanidade como um todo, principalmente por causar impactos negativos no desempenho profissional e acadêmico, no estado de saúde, na vida social e familiar do consumidor.
A bebida é uma droga muito patrocinada pela indústria. No Brasil, as propagandas de cervejas são muito transmitidas em horários nobres. Além da bebida ter uma aparência que estimule o consumo, as campanhas publicitárias transmitem ao comprador uma sensação de alegria, euforia e bem-estar. Geralmente, as propagandas que os jovens mais gostam e se identificam são aquelas que trazem uma pitada de humor, mulheres bonitas, roda de amigos e eventos esportivos.
A psicóloga Maria Inês destaca que o costume de ingerir bebidas alcoólicas está presente em vários momentos da vida das pessoas, incluindo celebrações. Ou seja, a presença de álcool já está associada a qualquer participação coletiva de festejo.
“O ambiente universitário provoca muita ansiedade, muitas cobranças, muitos quadros de depressão, de estresse e, dependendo da relação que a pessoa tem com drogas ilícitas ou lícitas, muitas vezes entra como se fosse uma automedicação”, ressalta Maria Inês. Segundo ela, é preciso que haja campanhas de conscientização e de promoção de saúde, possibilitando a criação de um ambiente enriquecido de estimulações e principalmente de relações interpessoais.
“Se existe um antídoto para isso, seriam as relações pessoais. A pessoa que tem relações importantes e significativas, tem menos chance de fazer o uso abusivo do álcool”, concluiu a psicóloga Maria Inês.