Política
O passado de cada presidente pensando no futuro
Reportagem do Campus revela o que o universitário leva em conta, sobre o passado do candidato escolhido, na hora de votar

O primeiro voto sempre é memorável, independente do contexto social, político e econômico que o país estiver vivenciando. Nas eleições de 2018, uma das mais polarizadas da história, o jovem universitário não olha apenas para a frente, mas também observa o passado dos candidatos preteridos. Assim, a reportagem de hoje do Campus conversou com alguns estudantes em relação ao currículo dos presidenciáveis como forma de auxiliar a escolha em quem votar. Alguns explicaram que pouco importa, já outros revelaram um intenso resgate do passado como exemplo para o futuro.

1) Ciro Gomes (PDT) - Gabriel Queiroz

Gabriel Queiroz, 22 anos, é estudante de comunicação social e viu, com bons olhos, a formação acadêmica de Ciro Gomes, de 61 anos, em Direito, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). “Acredito que um dos principais pesos em votar é, primeiro de tudo, a questão acadêmica. Acho que é uma coisa que tem que ser exigida, independente do cargo público exercido. O candidato precisa ter certa bagagem curricular, tendo passado por nossas universidades, e o Ciro tem isso. Hoje, apesar de estar longe das universidades, Ciro ainda tem bastante influência. Ele está sempre presente, dando palestras, aulas. Inclusive, veio na UnB. Isso é essencial para o próximo presidente do país, e o Ciro é esse cara: é acadêmico, e, também, toda a questão da experiência política, como prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, além de deputado, ajuda. Eu acho que tem um peso gigantesco nessa minha decisão de escolhê-lo como próximo presidente da República”, explica. Em declaração ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato do PDT, que é advogado , revelou possuir R$ R$ 1,6 milhão em bens.

2) Fernando Haddad (PT) - Vinícius Martins

Vinícius Martins, 20 anos, é estudante de artes visuais da Universidade de Brasília (UnB) e, apesar de declarar voto em Haddad, revela que o currículo do candidato não teve tanto peso na hora da decisão. “O candidato que escolhi é Fernando, já que, como me identifico com os ideais de partidos da esquerda, ele possui uma vice-presidente (Manuela D’ávila) que eu apoio. Voto nele pelo fato de que, segundo as pesquisas, ele é o candidato mais próximo a vencer a disputa, não levando o passado muito em consideração”, revela. No entanto, Vinícius faz uma própria crítica ao Partido dos Trabalhadores. “Eu admito que fico um pouco aflito com sua vitória, trazendo, de novo, o PT ao poder”, argumenta. Haddad, 55 anos, é bacharel em direito, mestre em economia e doutor em filosofia, todos pela Universidade de São Paulo (USP). O candidato já foi Ministro da Educação (2005-2012), prefeito de São Paulo (2013-2017) e, agora, disputa a presidência do país. Em declaração ao TSE, o candidato do PT identificou-se como professor de ensino superior e afirmou ter bens no valor de R$ 428 mil.

3) Geraldo Alckmin (PSDB) - Pedro Henrique

Para Pedro Henrique, estudante de direito, a capacidade de ter apoio no Congresso Nacional pesa na decisão pelo voto em Alckmin. “O que me preocupa é se esses candidatos de direita ou esquerda possuem condição de governar. O impeachment de 2016, visto sob a óptica de analistas políticos, ocorreu pela falta de traquejo político. Por isso, escolhi um candidato que tivesse um passado político respeitável, que já mostrou alguns aspectos ideológicos semelhantes aos meus e meu pensamento ideológico se alinha ao de Alckmin. Acho, sobretudo, pela questão que vivemos, que é muito importante ter condições de governo, com reformas e políticas públicas. Alckmin, além disso, é médico. Para mim, a cabeça dele já está moldada para resolver problemas, curar. Não espero um salvador da pátria, mas, diante de um problema, alguém que possa analisar soluções e aplicar a melhor possível. Acho que a formação dele é de discernir problemas e procurar soluções, além do seu ‘background’ político, não como salvador da pátria, mas como um gestor que precisa colocar o Brasil de volta aos trilhos”, argumenta. Alckmin, 65 anos, que aparece na quarta colocação das pesquisas de intenções de voto, é formado em medicina pela Faculdade de Medicina de Taubaté, com especialização em anestesiologia pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público (IAMSP). Na vida pública, Alckmin coleciona inúmeras disputas eleitorais, tendo sido já eleito como vereador, prefeito, deputado estadual e federal, além de governador de São Paulo. Em declaração ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o candidato do PSDB revelou possuir R$ 1,3 milhão em bens.

4) Henrique Meirelles (MDB) - Rodrigo Moses

O estudante de administração Rodrigo Moses, 20 anos, enxerga positivamente o passado de Meirelles, 73 anos, na vida pública e no sistema bancário. “Acho que um dos principais motivos que me incentivam a votar no Meirelles é que ele representa ideias academicamente aceitáveis, ou seja, ideias econômicas ortodoxas. Isso só foi aplicado no Brasil com o Plano Real (1994). Meirelles tem uma experiência na vida pública muito grande também. Já foi eleito Deputado Federal e é impressionante ele conseguir um cargo majoritário para o governo federal (presidente). Talvez pelo desgaste do MDB. Ele tem experiência como presidente do Banco Central (2003-2010) no governo Lula e como ministro da Fazenda (2016-2018) no governo Temer. Para mim, a experiência política dele é essencial. No setor privado, para mim, não é tão determinante assim quanto a experiência política. Isso tem um peso, mas, para mim, o fator é político. O próprio Paulo Guedes (assessor econômico de Jair Bolsonaro) tem uma experiência no setor privado, mas, ao meu ver, ele não teria a mesma efetividade que o Meirelles em um possível governo”, relata. Meirelles é formado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, e, na década de 1970, obteve uma pós-graduação pelo Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na vida privada, teve destaque no BankBoston, tornando-se o presidente mundial do Banco em 1996. Em 2003, elegeu-se deputado federal de Goiás pelo PSDB. A popularidade fez com que o ex-presidente Lula lhe convidasse a assumir a presidência do Banco Central, sinalizando boas perspectivas para o mercado financeiro. Anos depois, em 2016, tornou-se ministro da Fazenda do governo Temer. Em declaração ao TSE, o candidato do MDB afirmou possuir um patrimônio avaliado em R$ 377 milhões.

5) Jair Bolsonaro (PSL) - João Pedro Boaventura

Líder nas pesquisas de intenções de voto, o capitão da reserva do Exército chama atenção do estudante de Engenharia de Produção João Pedro, que confessa escolher o presidenciável mais pelo viés ideológico do que pelo o acadêmico. “Meu voto no Bolsonaro é justamente para quebrar essa hegemonia da esquerda no poder. É a primeira vez, desde o fim da ditadura, que a gente tá tendo a oportunidade de ver uma direita conservadora assumir o poder. Antes, a direita era sempre vista com maus olhos, diante de todos os problemas e atos da ditadura. Assim, o Bolsonaro, feliz ou infelizmente, é a pessoa que personificou a direita conservadora. Pelas pesquisas, ele é a única pessoa que tem chance de quebrar essa hegemonia. Não concordo com tudo que ele fala, mas é a oportunidade que a direita tem de mostrar seus valores e mostrar no que acredita. Além disso, tem também o Paulo Guedes (assessor econômico de Bolsonaro), que é economicamente liberal. Vai ser de grande valia comparado à sociedade do Estado grande que o PT comandava. Naquela época, era uma sociedade baseada no curral eleitoral, ao invés de estimulá-la a evoluir, a buscar suas próprias conquistas”, critica. Bolsonaro é formado em educação física na Escola de Educação Física do Exército e é militar de Reserva do Exército brasileiro. Em declaração ao TSE, afirmou ter patrimônio de R$ 2,2 milhões, além de se declarar como membro das Forças Armadas.

6) João Amoêdo (NOVO) - Iago Grillo

O estudante de economia Iago Grillo, 19 anos, se entusiasma com o passado acadêmico de Amoêdo, 56 anos, para ir às urnas no dia 7 de outubro. “É uma inspiração para mim. O cara tem duas graduações: Administração e Engenharia Civil. Além disso, pelo que apresenta no currículo dele, sempre estudou muito. Ele realmente entende do mercado financeiro, já que trabalhou sempre com isso. Para mim, a principal pauta hoje em discussão no país é a economia brasileira, já que, o Brasil sendo a oitava maior economia do mundo, vem, hoje, caindo de forma considerável (em termos de crescimento econômico), tanto pelo aspecto global, quanto pelas péssimas políticas econômicas que vêm sendo adotadas. Como o país está muito fechado em relação ao mundo, na minha visão, Amoêdo seria aquele candidato que mais sabe de economia. Ele tem um perfil mais liberal, coisa que compactuo também”, revela. Amoêdo é graduado em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) e em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Iniciou no mercado de trabalho no Citibank. Um dos pontos altos do candidato é a recuperação do Fináustria, banco que tinha contas deficitárias, e, durante a gestão de Amoêdo, se recuperou, tornando-se uma das cem melhores empresas para se trabalhar pela Revista Exame. Em declaração ao TSE, Amoêdo declarou-se como engenheiro, além de revelar possuir um patrimônio de R$ 425 milhões.

7) Marina Silva (Rede) - Leonardo Miranda

O estudante de educação física Leonardo Miranda, 20 anos, declara voto em Marina Silva, resgatando o passado de luta da candidata. “Uma das coisas que me faz ter aspiração a votar nela são os lados de minoria. Ela é mulher, negra, de comunidade indígena. Saiu da sua comunidade sem saber ler e foi para Universidade Federal do Acre (UFAC), formou-se como historiadora. Também teve especialização em psicopedagogia pela UnB. Então assim, acho muito legal. Ela é uma pessoa que, apesar do povo dizer que ela não tem força, ela tem muita força e cresceu a ponto de ser tudo isso e ter muitas premiações em quesitos de sustentabilidade no mundo pela WWF”, esclarece. Marina é historiadora, já tendo sido ministra do Meio Ambiente (2003-2008). Em declaração ao TSE, declarou bens de R$ 118 mil.