Educação
Novos prazeres, velhos costumes: A prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis na Universidade
Jovens e adolescentes no início da vida sexual cometem excessos e acabam esquecendo dos métodos de prevenção. Muitos chegam na Universidade sem as devidas orientações.

Falar sobre sexo não é uma coisa tão natural para muita gente, mas que deveria ser diferente. O conceito de sexualidade está muito mais relacionado à orientação sexual do que com o sexo propriamente dito. O ato sexual é uma das formas de prazer que o corpo necessita, e para isso, é extremamente importante o cuidado com a saúde do seu corpo no que diz respeito à vida sexual.

A falta de informação e diálogo com a família contribui para que muitos jovens, ao chegar na universidade, não estejam preparados para o que vão encontrar. É diante dessa curiosidade de conhecer os prazeres da vida que adolescentes cometem excessos que acabam por influenciar na vida sexual.

Mário Ângelo é psicólogo e coordenador do Polo de Prevenção de DST. Está a frente do projeto há 14 anos. (Foto: Thalyta Guerra)

Segundo o psicólogo e coordenador do polo de prevenção a DST/Aids da Universidade de Brasília (UnB), Mário Ângelo Silva, o uso abusivo de álcool e drogas são fatores para maior exposição às Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Ele ressalta que, alunos recém-chegados na universidade demonstram, cada vez mais, falta de informação e desconhecimento sobre sexualidade e prevenção de doenças.

O que são Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs)?

O termo Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) substitui à expressão Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), de acordo com a utilização internacional empregada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa nomenclatura destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas.

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. Podem ser transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de camisinha masculina ou feminina, com uma pessoa que esteja infectada.

Como é a prevenção das ISTs?

O uso da camisinha (masculina ou feminina) em todas as relações sexuais (orais, anais e vaginais) é o método mais eficaz para evitar a transmissão das IST, do HIV/aids e das hepatites virais B e C, além de evitar a gravidez indesejada. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente testes para diagnóstico do HIV (o vírus causador da aids), e também para diagnóstico da sífilis e das hepatites B e C. Existem, no Brasil, dois tipos de testes: os exames laboratoriais e os testes rápidos.

Algumas infecções sexualmente transmissíveis podem ser tratadas e curadas, mas não é o caso do HIV.

Limitar o número de parceiros sexuais diminui, significativamente, a chance de contrair ISTs. É importante que você e seu parceiro tenham diálogo, façam exames e compartilhe os resultados um com o outro. Os testes rápidos são práticos e de fácil execução, podem ser feitos com a coleta de uma gota de sangue ou com fluido oral, e fornecem o resultado em, no máximo, 30 minutos.

O Polo de Prevenção de DST/Aids, localizado na Universidade de Brasília (UnB) disponibiliza a testagem rápida, os atendimentos são todas as terças-feiras, das 9h às 16h, o projeto abrange toda a comunidade da UnB, tanto estudantes quanto trabalhadores a serviço da universidade. Ainda, durante os outros dias da semana as pessoas podem buscar aconselhamentos, que são realizados por alunos extensionistas, estagiários e professores voluntários. Também são entregues gratuitamente camisinhas (masculinas e femininas) e óleos lubrificantes, além disso, estão disponíveis nas unidades de saúde.

Qualquer pessoa pode contrair uma IST?

Sim. Qualquer pessoa que tem relação sexual desprotegida, sem camisinha, pode contrair uma Infecção Sexualmente Transmissível. Não importa idade, estado civil, classe social, identidade de gênero, orientação sexual, credo ou religião. Existem casos em que a pessoa se apresenta aparentemente saudável, mas pode estar infectada por uma IST.

Em caso de uma situação de risco, o que devo fazer?

No caso do HIV, existe a PEP (Profilaxia Pós- Exposição ao HIV). É uma medida de prevenção à infecção pelo HIV que consiste no uso de medicação em até 72 horas após qualquer situação em que exista risco de contato com o HIV. Esses riscos podem estar em situações como: violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha); acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou contato direto com material biológico).

A PEP é composta por medicamentos antirretrovirais que agem evitando a sobrevivência e a multiplicação do HIV no organismo e, por isso, deve ser iniciada o mais rápido possível, preferencialmente nas 2 (duas) primeiras horas após a exposição ao vírus e no máximo em até 72 horas. Os medicamentos são oferecidos gratuitamente pelo SUS e, no Polo de Prevenção da UnB, são feitos a transferência do paciente para a Unidade de Saúde mais próxima.

Foto: Thifany Batista

A repórter Thalyta Guerra fez o teste rápido de HIV e Sífilis. O resultado ficou pronto em apenas 10 minutos.

Qual a diferença entre o HIV e Aids?

Ter o HIV não é o mesmo que ter aids. O HIV (vírus da imunodeficiência humana) é o causador da aids, ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo das doenças. Após o contágio pelo vírus HIV, os sintomas da AIDS podem demorar até 10 anos para se manifestar, por esta razão, a pessoa pode ter o vírus, mas não a AIDS ainda em seu corpo. A Aids é o estágio mais avançado da doença que ataca o sistema imunológico, conhecida também por “Síndrome da Imunodeficiência Adquirida”, causada pelo HIV.

Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Mas podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações.

Sexo entre mulheres também apresentam riscos?

Toda relação sexual desprotegida traz exposição ao risco às ISTs. Mulheres que tem relação com mulheres também devem fazer sorologias para doenças sexualmente transmissíveis periodicamente. O uso da camisinha é altamente efetivo na prevenção de ISTs portanto deve ser usada no sexo vaginal, anal e oral.

Tanto mulheres lésbicas quanto heterossexuais têm riscos de contrair infecções como HPV, Clamídia e Sífilis. Em todo contato íntimo sem proteção há a possibilidade de transmissão de doenças. Segundo Mário Ângelo, doenças como o HIV têm menor possibilidade de contágio entre lésbicas do que numa relação heterossexual desprotegida, onde o sêmen carrega o vírus. Ao receber sexo oral, tanto o homem quanto a mulher devem usar camisinha (ou folhas de látex), já que as mucosas da boca são porta de entrada para infecções.

Acessórios e brinquedos sexuais devem ser higienizados antes do uso. Também é indicado fazer uso de camisinhas e trocá-la caso haja alternância de acessórios.

Políticas de governo e mobilização

Em 2011, o Ministério da Saúde lançou ainda a Portaria 2.836, em que institui a Política Nacional de Saúde LGBT, garantindo atendimento às mulheres lésbicas e bissexuais e o respeito à vivência da sua sexualidade. O MS lançou campanha dirigida a trabalhadores do SUS, populações específicas e população em geral procurando sensibilizar e oferecer subsídios para um acolhimento e atendimento qualificado e humanizado às mulheres lésbicas e bissexuais, considerando as suas necessidades específicas.

De acordo com o coordenador do polo de prevenção de DST/Aids, Mário Ângelo, apesar dos excessos, o jovem está buscando se proteger. Ele destaca que são recebidos frequentemente pessoas do público LGBT. São promovidas oficinas para a discussão de quais são os riscos que podem estar correndo numa relação sexual desprotegida, independente do gênero. “As meninas lésbicas têm muitas dúvidas do risco que correm numa relação sexual, mesmo não havendo penetração”. Elas recebem orientações sobre como se proteger nas relações, com menos riscos.

Em uma classificação de risco, o sexo oral é o que tem menos riscos de contrair o HIV, o vaginal está no nível mediano, enquanto o sexo anal é o que mais aumenta as chances de contrair o vírus ou a bactéria.

Cada vez mais aumentam os diagnósticos positivos. Mário relembra que há um mês atrás, durante uma campanha foram descobertos três casos positivos num grupo de 130 pessoas, o que é um número alto, considerando a média brasileira. “A gente percebe que pela falta de informação, pela ausência de trabalhos e projetos nas escolas de ensino médio (públicas e privadas), os alunos chegam na universidade sem informação e sem acesso a preservativos e exames da rede pública” afirmou. A questão da saúde pública, é uma questão de todos e não só dos profissionais de saúde.

Serviço:

Polo de Prevenção DST/AIDS Local: ICC SUL – Sala A1-136 Contato: 3107-6735

Arte: Natália Alves