Opinião
Eu amo a UnB, mas…

Estar na UnB é um sonho para muitos estudantes. O momento em que vemos o nosso nome na lista de aprovados fica guardado na memória. Ao iniciar os estudos, um mundo novo se abre. São tantas pessoas novas e diferentes, tantos pontos de vista, onde repensamos ideias carregadas há anos. Isso é incrível!

Os dias se passam e logo começa a se instaurar aquela competição, pouco assumida, mas existente. Vemos os colegas discutindo com tanta autoridade e começamos a nos sentir mal, não bons o suficiente. “Sou uma fraude, por que estou aqui?”, “Preciso me esforçar mais, por que fui dormir cedo aquele dia?”, “Preciso dar mais de mim, por que tirei aquela nota tão baixa, se eu era uma das melhores alunas no Ensino Médio?”.

O interessante é a luta iniciada dentro de nós. De um lado afirmamos para nós mesmos e até para amigos que uma nota não nos define e não precisamos provar nada para ninguém. Mas na hora do “vamos ver” é fácil ceder e questionar a nossa capacidade como pessoa, ante uma nota que realmente não nos define. Logo pensamos ser os únicos assim, pois todos os outros estão só avançando. Então vem o desânimo, a vontade de parar o tempo para colocar tudo em ordem e voltar a ser aquela pessoa organizada, com tudo sob controle.

Nós, estudantes, somos pessoas totalmente diferentes. Uns moram pertinho da UnB, outros precisam de seis ônibus todos os dias para manter vivo o sonho da universidade. Uns compram suas marmitas enquanto outros pedem a Deus que o preço do RU não aumente, pois senão podem ir para a aula com fome. Uns acreditam no golpe e outros não. Uns estudam na BCE e outros em casa. Somos diferentes e isso é ótimo! Mas, em meio a pressão dos estudos, muitos têm um sentimento igual: o de não estar bem mesmo amando a UnB.

“Tudo ali me pressiona, os professores dizendo que preciso ser a melhor me pressionam, porque eu já tenho isso dentro de mim. Os alunos competindo me sufocam, ninguém ajuda ninguém e todo mundo quer se aparecer para os outros. É horrível estudar horrores e não ir bem na prova. Eu não consigo virar a noite estudando porque meu corpo precisa muito dormir e é horrível sentir que não estou dando o meu melhor porque eu não viro a noite e durmo em cima dos livros. É horrível sentir que tem que fazer mais quando você já está no limite, horrível a minha cabeça não conseguir guardar informação nenhuma, talvez por estresse”, relatou Mariana Nunes, estudante de Farmácia, quando perguntei se algo a pressionava na vida universitária.

Ao questionar em um grupo do Facebook se alguém gostaria de falar sobre saúde mental na universidade, várias pessoas quiseram dar seus depoimentos. Estudantes relataram a sensação de inferioridade e de se imaginar em uma corrida, onde todos estão lá na frente enquanto eles se arrastam para conseguir avançar. Os remédios controlados, as crises de ansiedade, o choro repentino. Nada disso é normal! Mas infelizmente tem sido comum e pouco discutido, nos fazendo acreditar ser os únicos nessa situação.

“O sentimento de culpa, de fracasso, a baixa autoestima e a solidão são bem comuns na Universidade. E a falta de tato ao se falar desses sentimentos por parte da comunidade acadêmica não ajuda em nada. É bem difícil tentar explicar por que trancou um semestre quando o motivo é saúde mental. Isso ainda parece tabu. E quando você não alcança metas é taxado de irresponsável e de preguiçoso. Quando se decide trancar um semestre para se cuidar, o que falam é que você desistiu”, conta Alany Santos, estudante de Agronomia.

Com o tempo, deixar de se divertir, deixar de se cuidar, deixar de pensar com clareza, fazer as coisas com pressa se tornam coisas normais. Nos estressar e descontar em quem mais amamos se torna comum e, infelizmente, muitos estudantes não veem a necessidade de ajuda ou não têm condições e até tempo para procurar auxílio quando estudar se torna o centro de tudo. O assunto não é discutido de forma suficiente no meio acadêmico e isso é prejudicial, pois a cada dia nos tornamos máquinas, produtoras de conhecimento onde o combustível é a saúde mental.

Felizmente todos os entrevistados são estudantes que reconheceram a importância de ajuda especializada para enfrentar as dificuldades e aproveitar a UnB da melhor forma, usufruindo de suas infinitas oportunidades. Praticamente todos os relatos recebidos ressaltaram o amor pela Universidade de Brasília e a vontade de continuar lá, mesmo com as dificuldades.

Se seus estudos não estão equilibrados com as outras áreas da vida, tão importantes quanto, saiba que isso não é normal e a culpa não é sua! A UnB oferece acompanhamento a estudantes por meio do Serviço de Orientação ao Estudante (SOU), localizado no ICC Sul, sala AT 152 (telefone: 61 3107 6305); e através do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos, localizado no Campus Darcy Ribeiro, em frente à Fiocruz (telefone: 61 3107 1680).

Desde já agradeço a ajuda de Mariana, Alany, Luciana, Raísa, Maria Lydia, Dayanne, Germana e as diversas outras estudantes da Universidade de Brasília, que separaram um tempinho para compartilhar seus sentimentos.

O texto não expressa necessariamente a opinião do Campus Online.