Opinião
Os dilemas da política de Cotas

A política de cotas trouxe sim mudanças e tornou a universidade mais democrática. Por outro lado, evidenciou o preconceito das classes privilegiadas, gerando um clima de hostilidade com o aumento de estudantes negros e de baixa renda no ensino superior. O fato de haver uma política de reparação não elimina os efeitos na pele de quem vive em meio a tantas violências diárias causadas pelo racismo.

Leia aqui nossa matéria sobre os 15 anos de cotas na universidade

Não é nada fácil conseguir formar, ainda mais quando se vive em situação de vulnerabilidade econômica e social. Permanecer na Universidade é um grande desafio para esses estudantes. Comprar apostilas toda semana, livros caros, materiais específicos do curso, transporte e outras despesas torna para muitos a vida acadêmica bem mais complicada.

Dados da Diretoria de Ensino e Graduação (DEG) revelaram que 19.373 estudantes ingressaram no ensino superior público por cotas, porém apenas 4.333 formaram. Obviamente existem vários motivos que não foram apresentados, mas esse fato deve ser analisado levando em consideração alguns aspectos.

Considerando que a questão de classe está diretamente ligada à questão racial no Brasil, é fundamental dar condições para que os estudantes cotistas consigam permanecer na universidade. Mas a extrema burocracia da Instituição para conseguir assistência é um grande obstáculo. Por isso, muitos desses alunos se veem obrigados a trabalhar desde o início do curso, o que acaba por prejudicar o rendimento.

Mesmo em meio às dificuldades alguns conseguem concluir a graduação. Daí começa outro desafio: adentrar no mercado de trabalho. O que pode poderia ser mais simples, se todos tivessem as mesmas oportunidades.

Contudo, estamos tratando de um país que mesmo após abolição, há exatos 130 anos atrás, deixou a população negra à margem dos direitos básicos e impedida de progredir por várias gerações. A ideologia racista atribuiu aos negros o lugar de inferioridade e perpetuou estereótipos que ainda hoje interferem em suas relações interpessoais e profissionais.

Infelizmente, em um mercado de trabalho que preza pelo mérito e pelo “padrão”, o perfil de pessoa contratável não contempla pessoas negras devido o tom da pele, cabelo ou fenótipo. Em muitas situações elas são preteridas.

Sendo assim, é dever do Estado estabelecer políticas que garantam o acesso desse grupo à educação superior, bem como a sua presença em todos os espaços da sociedade brasileira.