Editorial - A batalha delas

Conquistar novos espaços não é uma tarefa fácil, principalmente quando falamos de fenômenos de dimensões sociais. Todos os dias observamos mulheres chegando a lugares que nunca antes haviam se apossado: na presidência da República, no comando da bolsa de valores, na narração de jogos de futebol veiculados pela televisão e em outros postos de liderança, que, além da visibilidade, lhes proporcionam poder, reservando as especificidades de cada caso. No entanto, o cotidiano da maioria delas ainda é marcado pelos medos, violências, assédios e silenciamento.

Apesar da discussão acerca da igualdade de gênero ter avançado, ainda estamos muito distantes daquilo que pode ser considerado ideal. É raro alguém que não tenha tido um acesso mínimo ao assunto, seja nas redes sociais ou em outros âmbitos da vida. No entanto, as mudanças ainda são poucas, basta observamos os espaços de poder da sociedade. A primeira mulher a chegar ao topo da justiça, no Supremo Tribunal Federal, ocupou este lugar apenas em 2000, quando a ex-ministra Ellen Gracie Northfleet foi nomeada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Hoje, dos 11 magistrados que compõem a corte, apenas duas não são homens.

Na casa representante do povo brasileiro, no qual, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), elas são 51,4% da população, apenas 63 das 594 cadeiras (10,6%) são ocupadas por mulheres. Mas a desigualdade passa a ser mais cruel no dia a dia delas. O sexo considerado frágil é mais sujeito ao assédio do que os homens nas ruas, no trabalho, nas baladas e até mesmo em casa. Os números supracitados são apenas o reflexo dos obstáculos que os indivíduos do sexo feminino se veem obrigados a enfrentar para ter uma vivência digna.

Antes de pensar qualquer forma de mudar essa realidade, é necessário que a sociedade, sobretudo os homens, reflitam sobre os seus hábitos e convicções. Não é uma tarefa fácil, porque isso implica em questionar privilégios, o que não agrada a grande maioria deles. Enxergar a mulher como alguém no mesmo patamar de poder desafia crenças enraizadas nas nossas mentes há milênios e essa dificuldade é fruto do respaldo que diversas instituições dão e essas violências, como a família, passando pelas igrejas, indo até setores do estado.

O caminho é longo e são as mulheres que estão na linha de frente. A cada uma que vence sua batalha e chega a um posto nunca ocupado por elas é um novo passo rumo a uma realidade de igualdade, tão sonhada por muitos, mas nenhuma grande mudança ocorrerá sem atitude. A educação é a chave desse processo. Nossas crianças devem ser ensinadas a respeitar as meninas. As pessoas precisam se habituar a mulheres no comando nas empresas, nos cultos religiosos, nas universidades, na política, na mídia e em todos os outros espaços. Só assim conquistaremos a utopia.