Educação
Saúde mental e autoconhecimento são temas de atividades da 18ª edição da Semana Universitária da UnB
A temática de Vivências Psíquicas integra a programação do Instituto de Química da UnB. As atividades são um reflexo da preocupação da universidade perante a emergência de casos envolvendo a saúde mental da comunidade acadêmica

Como entender meu sofrimento psíquico? Esta foi a pergunta que norteou o debate sobre Vivências Psíquicas promovido pelo Instituto de Química (IQ) na tarde desta segunda-feira (24), no auditório Lauro Mohry. A palestra buscou trazer luz ao debate sobre o que é o sofrimento psíquico humano, compreendendo-o não como uma doença, mas como uma necessidade de autocuidado para que o indivíduo sinta-se mais preparado a enfrentar as adversidades da vida. O objetivo da atividade foi situar a vivência psíquica como um processo pessoal, de cada um, do que é ser e estar no mundo.

A palestra foi ministrada pelo professor do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB) Dr.Ileno Izídio da Costa. Segundo ele, o sofrimento é algo que é parte do ser humano, e que cada um deve desenvolver seus meios para lidar com estes problemas internos. Na ocasião, ele destacou que é preciso resgatar a capacidade de cuidar um dos outros, respeitar e se responsabilizar pelo sofrimento do outro. Nesse sentido, as relações familiares estão diretamente ligadas ao modo em que o ser humano constrói outros tipos de relações. Ele explicou também que as relações se tornaram “líquidas”, ressaltando que a inversão de valores contribui para a discriminação e desconsideração do que é cuidar do próximo e se enxergar um ao outro como seres humanos.

Mas o que são os sofrimentos psíquicos? Psíquico não é apenas psicológico, mas sim uma integração entre o próprio corpo, as relações, o sentido da vida e a espiritualidade. Ileno afirma que o sofrimento psíquico se dá quando essas áreas entram em colapso, ou seja, quando o indivíduo não consegue se resolver consigo mesmo diante de suas vivências. A doutoranda em Educação e Ciências Nara Alinne Nobre, também professora de química no Instituto Federal Goiano, relatou que o fato de sentir fragilidades em relação a sua formação para atuar junto aos seus alunos a respeito da saúde mental foi decisivo para que se interessasse com o debate. “Estou há pouco tempo aqui em Brasília, então comecei a ter outras vivências e aqui também percebi que estavam trabalhando bastante essa questão da saúde mental. Pensei que esse momento aqui na universidade, fosse um momento importante para minha formação e também para lidar com os meus próprios sentimentos, minhas próprias experiências”, afirmou.

“Escutar o sofrimento do outro e principalmente cuidar. Entender e não discriminar os problemas alheios e o mais importante, estabelecer vínculos mais palpáveis”, reflete Dr. Ileno. Durante a palestra, o professor citou um caso de suicídio na universidade e afirmou que “aqui (UnB) a gente não só estuda, precisamos nos cuidar mais”. Para ele é possível evitar nove entre dez casos de tentativas de suicídio; escutar e acolher melhor as relações são alguns dos caminhos sugeridos pelo palestrante. Para ele é preciso tornar o ambiente acadêmico e profissional mais humano e assim como transformar a universidade em um ambiente mais acolhedor. O professor e doutor também defende o acontecimento de mais diálogos e outras ações referentes à qualidade de vida e saúde mental, pois, em suas palavras, eles são extremamente importantes para que todos possam repensar a qualidade das relações na universidade, de toda a unidade, incluindo estudantes, professores e servidores.

Jessé Vanzella, 22 anos e graduando do sétimo semestre do curso de Engenharia Química, disse que muitas vezes as pessoas estão mais preocupadas com o trabalho, com os estudos, do que com a própria saúde, sendo que, na verdade deveria ser ao contrário. “O nosso rendimento acadêmico é consequência da nossa saúde mental, se estamos bem mentalmente fazemos melhor nossas atividades dentro da faculdade e até na relação com as pessoas. É interesse falar dos suicídios na universidade, porque infelizmente ainda não estamos preparados para receber esse tipo de transtorno, nós precisamos entender mais do assunto para tentar acolher essas pessoas da melhor forma possível”, relata a estudante.

Dr. Ileno Izídio também é coordenador do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Atendimentos em Saúde Mental e Drogas (Nepasd), projeto recente que já acontece na Universidade de Brasília (UnB), em parceria com as unidades acadêmicas, para promover rodas de conversas e debates sobre o assunto. Atualmente, os encontros estão acontecendo todas as quartas-feiras, às 16h, no Instituto de Química e Filosofia. O projeto também realiza atendimentos individuais e de acordo com o coordenador já foram atendidas mais de oitenta pessoas. Segundo Ileno Izídio, o Nepasd já está em diálogo interno junto à Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS), Diretoria de Diversidade (DIV), Coordenadoria de Atenção à Saúde e Qualidade de Vida (CASQV), Programa de Apoio às Pessoas com Necessidades Especiais (PNE) e abrirá a discussão em termos de promoção a saúde mental com todas as unidades acadêmicas que demandarem esse tipo de ação. “Esse é um dos nossos papéis, debater o assunto sobre saúde mental onde for preciso”, afirmou.

Esses programas sempre existiram, mas atualmente ganharam espaço de fala por causa da possibilidades modernas e rápidas em comunicação. É de extrema importância que compreendamos que há canais efetivos onde pode-se pedir ajuda profissional graças a esses programas. É necessário que façamos conhecidos estes vínculos e meios para que os discentes e docentes que estão fragilizados e enfrentando momentos difíceis saibam que tem é possível conseguir um apoio. Esse movimento feito hoje pela Universidade de Brasília é tão importante para a comunidade acadêmica quanto a convivência social fora dos espaços do campus.

Para solicitar o atendimento do núcleo basta pedir ao coordenador do seu curso que lhe encaminhe para o acompanhamento, ou ligue para 3107-1679.

Edição de Larissa Silva

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