Política
Votar para alguns é mais dever do que direito
A história de quem não vê no voto um direito de mudar os rumos do país, mas o cumprimento de uma obrigação imposta pelo Estado

Votar, para a maioria dos brasileiros, é um momento de esperança e um sentimento de pertencimento a uma sociedade democraticamente organizada. Mas, para alguns, é um momento de dor e desafios pessoais.

É o caso de Ana Maria de Negreiros, de 66 anos. Ela esteve hoje no Centro de Ensino Fundamental 1 do Gama para votar e precisou de auxílio das pessoas presentes para chegar até a urna. Ela é proprietária de uma pequena loja de doces na sua própria residência, para complementar a renda da família, que é mantida apenas com a pensão de um salário-mínimo do marido, já falecido. Dona Aninha, como costuma ser chamada, mora com sua mãe de 89 anos, Ana Rosa Jesus Sousa, e cuida de sua filha de 38 anos, Benediana Cristina Negreiros Reis, que sofreu paralisia cerebral aos seis meses de idade, após uma queda. Desde então, a filha vive sobre uma cama, se alimenta por sonda e depende de dona Aninha para os cuidados básicos de sobrevivência. A situação é ainda mais difícil porque há cerca de três anos Ana Negreiros sofre com rompimento dos tendões e desgaste severo da cartilagem do joelho. Hoje ela depende do uso de duas muletas para conseguir se deslocar.

A senhora Ana Negreiros exibe o título de eleitora em sua casa. (Foto: Adelino Filho)

Dona Aninha revolta-se com o governo porque só encontra portas fechadas para todas as suas reivindicações de ajuda assistencial para o cuidado com sua filha, seja para a medicação de alto custo, alimentação diferenciada por sonda ou mesmo uma cadeira de rodas especial. Sua filha possui uma cadeira de rodas recebida por doação, mas que está em péssimo estado e falta até o apoio de pés. Ana Negreiros diz que só foi votar porque é obrigada, porque senão a pensão é cancelada. Se não fosse por isso, não teria ido votar porque não acredita mais nos políticos.