A semana final da campanha presidencial deste ano vai, aos poucos, chegando ao seu final. Retratou fielmente o que se tornou boa parte da sociedade brasileira na atualidade. E a parte majoritária da nação cristalizou o que havia no mais distante do subúrbio de suas mentes e almas sobre opinião política: o voto de protesto. O não-voto, o voto de revolta, contra o sistema, contra tudo e contra todos. Contra "tudo isso que está aí". O voto que, numa democracia consolidada e saudável, não teria impacto significativo no processo político-eleitoral. A questão é que, justamente no momento atual, é exatamente a democracia que corre risco. Num passado não muito distante, era preciso estabelecer um alvo, um "inimigo" comum, que deveria ser o grande vilão que deveria ser combatido até o fim, como num enredo de um conto de fadas medieval. Eis que em 2013 surge o "antipetismo", derivado dos protestos de rua que sacudiram o país naquele ano e começou a marcar uma fronteira perigosa de divisão ideológica da qual nenhum cidadão brasileiro estava preparado. A prova disso foi a escalada gradual de atos violentos motivados por divergências e discussões motivadas por assuntos políticos. O mais importante já não era ser a favor de uma causa relevante para a sociedade, mas ser o "anti-alguma-coisa".
O resultado das eleições de quatro anos atrás, por diferença pequena de votos válidos, deu ainda mais fôlego aos que pretendiam mudanças radicais no Poder Executivo a todo preço, nem que para isso fosse preciso subverter todas as regras constitucionais do regime democrático. Vieram novos acontecimentos, desde o impeachment da presidente Dilma Rousseff até a prisão do ex-presidente Lula. Mais ainda faltava algo: alçar um "salvador da pátria" à condição de presidenciável, e teria que ser o personagem mais antagonista possível de todas as ideologias e partidarismos políticos que monopolizaram o jogo do poder no Brasil até então, ainda que esse personagem fosse um inexpressivo deputado federal sem nenhuma relevância no cenário político nacional, mais conhecido pelas declarações politicamente incorretas do que a suposta eficácia das suas ideias para a solução dos grandes problemas do país.
Foram usadas com maior intensidade todas as mais nefastas formas de veiculação de boatos, mentiras e distorção de fatos que vinham ganhando forma nos anos anteriores nas redes sociais e ganharam maior velocidade com os aplicativos de comunicação instantânea por smartphones. Em outra vertente, começou o maior ataque aos meios de comunicação estabelecidos no atual ciclo democrático, com as mais infundadas acusações e ofensas aos profissionais de comunicação, além de ameaças a empresas e profissionais do meio jornalístico, incluindo ações hostis e mesmo alguns episódios de agressões físicas.
Caso o resultado final da eleição do próximo domingo confirme as previsões das últimas pesquisas de opinião, a mentira terá prevalecido sobre a verdade. O ódio, diante do debate de ideias e propostas. A apologia à violência terá vencido a justiça, e o "voto de protesto" - o voto alienado, inconsequente, irresponsável - poderá ter como consequência o aval para uma nova ruptura do regime democrático, já fragilizado e que pode não resistir ao próximo ataque.