Comportamento
Mulheres vencem barreira de gênero no esporte
Estudantes da UnB contam ao Campus a quebra de paradigmas na prática esportiva

Ao longo do tempo, as mulheres vêm quebrando estereótipos impostos pela cultura ocidental padrão já estabelecidos por anos pela sociedade patriarcal. São os mínimos exemplos que já chamam a atenção. No caso dos esportes, estudantes da Universidade de Brasília (UnB) tentam conquistar seu espaço de participação nas modalidades, competindo de igual para igual com os homens, enxergando com naturalidade os desafios e barreiras a serem transpostos.

É o caso da estudante de Educação Física Cataryne Fonseca, de 19 anos, que luta judô, arte marcial japonesa, esporte praticado majoritariamente por homens. Cataryne já se sagrou campeã brasileira do seu peso, chegando a integrar a seleção brasileira da modalidade. “Eu faço judô desde os quatro anos. Quando comecei, era a única menina na turma. As outras mães ou não deixavam as filhas praticarem a modalidade, ou as próprias meninas não gostavam. Com o decorrer do tempo, fui praticando e gostei. Tornei-me faixa preta e ganhei títulos. Fiquei muito feliz. Uma mulher, no esporte, é algo muito diferente. As pessoas não conseguem ver como algo normal, mas, ultimamente, é a coisa mais normal do mundo”, disse.

Uma mulher, no esporte, é algo muito diferente. As pessoas não conseguem ver como algo normal, mas, ultimamente, é a coisa mais normal do mundo

Segundo Cataryne, um exemplo real é o desempenho individual, no quadro das medalhas, do judô nas Olimpíadas. De acordo com a estudante, a arte marcial acaba por trazer mais medalhas, pelo sexo feminino, do que masculino, nas competições. “Eu gosto do que o esporte faz com a figura da mulher. Ele dá valor e mostra que não são apenas homens que são fortes. A mulher também pode ser muito grande no que faz. O judô trouxe isso para mim e continua a trazer para várias mulheres”, relatou.

Cataryne, que pratica judô desde os quatro anos de idade, já acumula, na bagagem, importantes títulos. (Foto: reprodução do arquivo pessoal)

Outra que também, desde criança, se interessa pelo esporte, especificamente o futebol, uma prática esportiva majoritariamente masculina, é Isabella Silveira, 19, estudante de publicidade na UnB. “Comecei a jogar futebol quando era pequena. Sempre demonstrei interesse. Jogava na escola, nos intervalos, junto com os meninos. Porém, meu pai nunca quis me colocar em uma escolinha, nem levou a sério meu interesse, até por ser um esporte majoritariamente masculino. Ao longo da vida, eu nunca parei de jogar, mas também não treinava constantemente. Quando estava no Ensino Médio, voltei a treinar, duas vezes por semana. Depois, acabou que parei por mais um pouco”, revelou.

De acordo com Isabella, não é fácil encontrar um time feminino para jogar em Brasília. “É difícil achar, até para jogar uma ‘pelada’. Quando entrei na faculdade, consegui arrumar um time, o “Reverso”, que junta meninas de diferentes cursos da UnB“. Desde então, Isabella treina de duas a até três vezes por semana e também integra o time da atlética da Faculdade de Comunicação, a Hermética. Porém, na visão de Isabella, as mulheres ainda sofrem uma inferiorização ao jogar com homens. “Um dia, em um campeonato, fiquei em um time que só tinha meninos. Eu, mulher, e vários meninos. Bom, no decorrer do jogo, toda vez que eu encostava na bola, um dos meninos ficava: ‘boa, boa’... parece que fazia isso para me deixar confortável, mas, na verdade, me deixava desconfortável, até pelo fato de que ele não ficava com esses elogios pra mais ninguém”, afirmou.

Ainda segundo Isabella, a prática esportiva do futebol, no dia a dia, lhe trouxe saúde física e mental para aguentar a rotina. “Fico muito mais tranquila, depois de um dia estressante, quando treino. Até entrei na academia para melhorar meu rendimento no esporte, apesar de não gostar de musculação”, completou.

Louani da Mota Badu, 25 anos, pratica um esporte que além de ser extremamente masculino é pouco conhecido e praticado no Brasil, o futebol americano. Quando uma amiga a convidou para jogar, ela foi porque gostava do esporte e acompanhava a Liga Nacional de Futebol Americano (NFL). “A princípio eu sempre gostei de futebol americano, sempre achei muito inteligente, e acompanhava a NFL usualmente. Quando uma colega me convidou falando que era só pra se divertir no começo, eu topei, e foi ficando sério, até ser registrado e a gente entrar pro campeonato nacional”. A Louani joga no Brasília Pilots, equipe feminina de futebol americano que treina na Esplanada dos Ministérios (no gramado em frente ao Senado Federal) nos sábados das 9h30 às 12h, e nas quintas no gramado da Funarte das 19h30 às 22h.

Apesar de participar de campeonatos, o Brasília Pilots não tem patrocínio que possibilite a dedicação total das atletas. A maioria delas trabalha e estuda e concilia isso com os jogos e treinamentos. “É um pouco complicado conciliar, principalmente na quinta, porque sexta de manhã tem aula, às vezes prova e fica difícil ainda mais porque eu moro longe, mas a galera é super compreensiva. A gente passa as datas que teremos prova ou estaremos impossibilitadas de comparecer e é ok”, explica Louani.

Embora seja um esporte mais masculino, Louani nunca sentiu preconceito ao praticar futebol americano. Para ela, as pessoas costumam ter uma visão equivocada da pratica esportiva. “A galera geralmente acha muito legal. Mas já ouvi de mulheres mais velhas algo como “Nossa, eu sempre achava que vocês jogadoras eram machonas, não tinham feminilidade, não eram bonitas, eram tudo grossa, e você é o oposto, fico muito feliz” como um elogio. Ainda há um estereótipo muito grande quanto ao esporte, que os homens são todos violentos, agressivos, e até é um pouco verdade que são machistas e tal, mas nem todo mundo é assim”.

Por ser pouco conhecido no Brasil, o apoio da torcida é pequeno, na maioria de amigos e familiares. “Olha, a maioria é família, namorados/as, os patrocinadores, os amigos dos outros times, mas de público mesmo que vão aos jogos e não conhecem nenhuma das jogadoras é muito pouco. Vira e mexe algumas pessoas nos veem treinando na esplanada, para e nos assiste treinar, tira foto, é muito divertido”. Apesar de difícil, Louani deixa claro o desejo de se profissionalizar no futebol americano. “Nossa, adoraria, poder me dedicar exatamente como eu gostaria, poder ter o tempo de treinar tudo o que preciso na academia pra não lesionar, seria incrível”, finaliza.