Diabetes, Educação em Saúde e Atividades Físicas Orientadas são os temas que compõem o tratamento oferecido pelo Doce Desafio, projeto de extensão de ação contínua da Faculdade de Educação Física da Universidade de Brasília (UnB). O projeto, criado em 2001, tem como objetivo atender aos diabéticos do DF, "orientando-os à vida saudável, à prática de atividade física e ao conhecimento nutricional e medicamentoso, aos quais são submetidos pelos médicos e profissionais envolvidos nos seus tratamentos", de acordo com a página oficial do programa no Facebook.
Sediado no Centro Olímpico da UnB, no Setor de Clubes Norte, o programa conta com uma equipe de monitores provenientes de diversos cursos da Universidade, como Enfermagem, Educação Física, Nutrição e Psicologia; os quais possuem como principal função o acompanhamento dos participantes nas atividades físicas.
"Nós acompanhamos os diabéticos nas atividades, lembramos da necessidade de fazer a avaliação da glicemia, de lavar a mão antes da verificação inclusive, porque isso (a sujeira) também interfere, além de aferirmos a pressão'', afirma Hellen Cristina, 19, monitora do projeto e estudante do curso de Enfermagem. Para ela, o acompanhamento é especialmente importante caso haja 'pico de glicemia' no organismo dos participantes, pois, nessas circunstâncias, os monitores são capazes de socorrê-los.
"Também fazemos alongamento dinâmico e atividades educativas relacionadas a diabetes. Uma vez, por exemplo, dei uma atividade educativa sobre acupuntura beneficiando o diabético. A gente tem que estar sempre dando esse suporte", acrescenta Hellen, que conheceu e tornou-se membro do projeto a partir de uma amiga diabética.
"Ouvi histórias de pessoas que são diabéticas há 20, 30 anos e como elas passaram por um processo de superação emocional, de como, quando descobriram a doença, ficaram abatidas e hoje são super felizes" - Hellen Cristina, monitora do Doce Desafio. (Foto: Helen Marinho)
Sobre os benefícios do Doce Desafio, Hellen afirma: "Acredito que seja muito importante porque, hoje, quando a gente fala de diabetes, a pessoa automaticamente associa a uma doença de 'velho' ou a uma doença em que não se pode comer açúcar de jeito nenhum, e não é isso. Quando a gente aprende o que é diabetes, a gente percebe que é muito mais amplo e que é muito mais importante do que só não poder comer açúcar. Quando entrei no Doce Desafio, eu consegui ver isso, consegui ter um contato maior com a doença".
"Essa comunicação, essa amizade, essa vivência, acho que é muito saudável pra gente [que tem diabetes] até conviver com os alunos que são mais jovens que nós, a gente se sente até melhor, mais aceita. Os meninos aqui são ótimos" - Conceição Irineu, 76, participante do Doce Desafio.
Conceição Irineu tem diabetes tipo 2 e chegou ao projeto Doce Desafio por meio de indicação de uma "amiga do Lago Norte". (Foto: Helen Marinho)
Para Conceição, 76, que sofre de diabetes tipo 2 e participa do Doce Desafio há cerca de 1 ano e meio, o projeto oferece muitos benefícios: "Comecei a frequentar e achei ótimo porque eles [monitores] fazem as medições [de pressão arterial, glicose, frequência cardíaca] da gente e pelo menos passamos a ter uma noção, né? Dá uma ajudada. Meu problema antes também era pressão alta, agora a pressão está controlada. Também verifico a glicemia aqui".
Segundo ela, que convive com a diabetes há cerca de 20 anos, o principal benefício está relacionado a uma conscientização maior sobre a doença; "O que eu acho mais importante é que ele [o Doce Desafio] realmente leva a gente ter uma consciência maior sobre isso [a doença], a ter que controlar melhor a alimentação, ter uma alimentação mais saudável. Algo que nem sempre é possível, mas é o que buscamos, não é?".
Conceição faz parte do perfil predominante das pessoas atendidas pelo Doce Desafio, que é o de maioria idosa, na faixa dos 50 aos 70, 80 anos de idade. "Muitas [pessoas] conhecem por amigos que já passaram ou passam pelo projeto, outras foram buscando mesmo, porque o diabético está sempre querendo se integrar em ONGs e projetos, aí muitos pesquisam e acham, por meio do 'boca a boca'", confirma Hellen Cristina.
As atividades do tratamento do projeto ocorrem segunda, quarta e sexta-feira, no Centro Olímpico da UnB. Os horários disponíveis são: 10h às 12h e 14 às 16h. De acordo com o site oficial, as atividades físicas englobadas são: ginástica, alongamento, musculação, futebol, dança, voleibol, caminhadas, recreação, dentre outras. Todas as atividades são adaptadas às necessidade de cada participante do projeto.
Para maiores informações a respeito do funcionamento do projeto e acompanhamento das atividades promovidas por ele, acesse www.docedesafio.org.br.
No encalço da questão do auxílio aos diabéticos e, somando-se a isso, potenciais desafios relacionados à doença enfrentados no dia a dia na Universidade, 10 alunas/ex-alunas/extensionistas da UnB, que também sofrem com diabetes, criaram um grupo no aplicativo WhatsApp no início de 2019, com a intenção de servir como fonte de apoio para todas.
O grupo, intitulado "UnB e Diabetes", foi criado em janeiro deste ano, após uma das atuais integrantes necessitar urgentemente de insulina na UnB, comunicar isso pela plataforma Twitter, e receber muitas respostas de outras meninas que também têm diabetes. Segundo uma das participantes, a formada em Museologia pela UnB, Julya Primo, 25, "a ideia de criar o grupo foi de uma dessas meninas, após esse acontecimento, para a gente ter a quem recorrer em casos parecidos".
De acordo com Julya, as integrantes têm entre 18 a 25 anos de idade e possuem diabetes tipo 1. Apesar de nunca terem se reunido pessoalmente, Julya afirma que, através do grupo, se apoiam de todas as formas que podem: "Seja tirando dúvidas umas das outras, compartilhando situações e experiências, dando conselhos tanto sobre o tratamento em si, quanto sobre aspectos psicológicos e emocionais, que são bastante afetados pelas mudanças no estilo de vida que a diabetes traz. Nós também buscamos ajudar umas às outras em casos de emergências mais físicas: uma hipo ou hiperglicemia, na falta de alguma insulina ou outro insumo necessário para que a correção da glicemia seja feita".
Por ora, o grupo restringe-se a participantes femininas. Interessadas em integrá-lo podem entrar em contato com uma das integrantes por meio do perfil @julyaprimo, no Instagram.