“Eles chegam a carregar a gente.” A frase do estudante de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Carneiro, revela um problema recorrente em todo o Brasil nos tempos chuvosos: o Aedes Aegypti.
Estima-se que existam 165 milhões de insetos para cada ser humano na terra, e os mosquitos representam uma parcela significativa deles, além de serem um problema nos países tropicais. Entre as doenças transmitidas por esses animais, está a dengue. De acordo com o último boletim da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, somente na Asa Norte e neste ano, já são 100 possíveis casos da doença.
“Eles chegam a carregar a gente.” A frase do estudante de Serviço Social da Universidade de Brasília (UnB), Rafael Carneiro, revela um problema recorrente em todo o Brasil nos tempos chuvosos: o Aedes Aegypti.
Um retrato dessa quantidade de mosquitos e do risco é o subsolo do Instituto Central de Ciências (ICC). Para Rafael, o local é onde mais se encontra pernilongos e mosquitos da dengue na universidade.
“Eu ando muito pela UnB vendendo meus brigadeiros e acho que o local que mais tem mosquitos é no subsolo do ICC.”
Entre as idas e vindas do estudante, há cerca de 20 dias, Rafael foi diagnosticado com dengue. Os sintomas da doença começaram com dores, febre alta e calafrios, mas logo surgiram manchas vermelhas na pele, cansaço no corpo e dores nas articulações.
Apesar de não poder comprovar, Rafael acredita ter pegado a doença na UnB. Segundo ele, ninguém da sua família e nenhum dos vizinhos na rua onde mora – em Taguatinga Sul, Distrito Federal – pegou o vírus.
Juranir Pereira, vigilante no Instituto de Biologia (IB), contou que sentiu os mesmos sintomas. Ela também acredita ter pego a doença na universidade: “Eu acho que peguei a dengue no IB, porque lá tem muito mosquito e, além de mim, um porteiro também estava com sintomas de dengue".
Mesmo com a reincidência da doença ano após ano, a dengue sempre está presente nos dias chuvosos dos brasileiros, o que não é diferente da realidade da UnB. No entanto, algumas soluções a médio e longo prazo têm surgido.
Em fase de pré-projeto, a turma de Prevenção de Acidentes em Primeiros Socorros, de Educação Física, está preparando “mosquitoeiras” para os Aedes Aegypti. A ideia da armadilha é atrair o mosquito para colocar os ovos e depois eliminar a prole.
Na construção da arapuca, se utiliza como base uma garrafa pet. Além dela, também é preciso uma lixa de parede, um pano para servir como filtro, tesoura e fita. Dentro da armadilha se coloca apenas água e arroz – que ajuda com nutrientes para a germinação dos ovos.
As larvas se transformam em mosquitos dentro da armadilha e não consegue sair. Com a falta de alimento, os insetos acabam morrendo em poucos dias, explica Vitor Shiratori, estudante de Farmácia e integrante da turma.
Para o aluno, a ideia é trazer uma forma fácil de diminuir a quantidade de insetos e, consequentemente, baixar os casos de dengue.
“Queremos disseminar o conhecimento para a comunidade, prevenir de uma doença que temos condições de controle melhor.”
Segundo Vítor, os alunos da disciplina devem fazer os testes com os “mosquitoeiras” pela UnB nas próximas semanas. Além disso, eles devem oferecer oficinas gratuitas ensinando a montar a armadilha.
As "mosquitoeiras" do projeto. (Foto: Vitor Shiratori)
Outros projetos também vêm ganhando força na universidade. Um deles é desenvolvido pelo professor Rodrigo Gurgel, do Núcleo de de Medicina Tropical. O projeto foi realizado primeiro em São Sebastião, no DF, e teve redução de aproximadamente 70% na incidência do mosquito.
Em 150 casas, os pesquisadores colocaram estações disseminadoras do PPF – um larvicida utilizado pela Fiocruz em Manaus. “Colocamos nas casas ou locais públicos protegidos da chuva e dos animais domésticos. Quando a fêmea vai neles, para tentar colocar ovos, ela se contamina com o PPF (em pó) e carrega o larvicida para vários potenciais criadouros. Ao entrar em contato com esses criadouros, não permite que as larvas se desenvolvam até chegar à fase adulta”, explica Rodrigo.
O professor também diz que o projeto está sendo implantado na UnB desde outubro do ano passado. Além disso, três projetos de iniciação científica relacionados com a iniciativa também estão sendo desenvolvidos. Mas os dados sobre a implantação na universidade serão divulgados em breve, afirma o pesquisador.
De acordo com a UnB, outra iniciativa também se destaca. O Projeto ArboControl também trabalha para combater o mosquito. O projeto faz parte da Faculdade de Saúde e procura novos inseticidas e larvicidas para eliminar o Aedes Aegypti.
Ao Campus, a UnB disse que não há um dado de quantas pessoas e funcionários contraíram a doença neste ano. A instituição também informou que está “articulando mais ações preventivas junto aos órgãos responsáveis, com o apoio de pesquisadores com expertise na área”.
Sobre a situação no Subsolo do ICC, a instituição afirmou que ainda não tem um prazo para dedetização no local. O motivo seria a conciliação de datas entre as unidades acadêmicas, o que leva tempo, segundo a UnB.
A universidade também orienta os alunos e funcionários a informarem a Diretoria de Serviços da UnB em caso de encontrar focos do mosquito. Os meios para informar a diretoria são: pelo telefone (3107-3327) ou pelo e-mail (diserprc@unb.br).
Procurada, a empresa Servite – responsável por alguns dos terceirizados – não respondeu até o fechamento desta reportagem.
Além disso, a Secretaria de Saúde indica sempre: não deixar água parada e, em caso de foco, comunicar aos agentes de combate ao mosquito. No site, também é possível encontrar outras formas de prevenção e mais orientações. Acesse: brasiliacontraoaedes.saude.df.gov.br