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Mais de 55% dos moradores de rua que vivem perto da UnB tem menos de 25 anos, segundo censo
Pesquisa foi feita por empresa júnior da UnB e traz um pouco da realidade dos moradores que vivem no entorno da universidade

Mais de 55% dos moradores de rua que vivem no entorno da Universidade de Brasília tem menos de 25 anos. O dado foi divulgado pelo censo de moradores de rua do entorno da UnB de 2019, realizado pela empresa júnior ESTAT Consultoria.

O censo foi feito com 48 pessoas em três lugares diferentes do entorno da UnB: final da via L3 Norte, via de acesso à L4 Norte pelo início da L2 Norte e início da via L4 Norte. Além dos dados sobre a idade, outros pontos foram levantados, como nível de escolaridade, religião, renda mensal e frequência de doações recebidas.

Empresa júnior realizando a pesquisa em fevereiro deste ano. (Foto: Cedida pela ESTAT Consultoria ao Campus Online)

Entre os motivos dos moradores se concentrarem nos três lugares, 32,7% responderam “receber doações”, 26,1% responderam “não tem outra opção”, 19,6% disseram “proximidade com trabalho ou escola” e 8,7% responderam “ficar mais próximo da família”. As outras opções (“alcoolismo”, “local que governo não tira” e “porque gosta”) foram escolhidas por 4,3% cada uma.

Outra informação levantada pela pesquisa mostra que 91,5% dos moradores entrevistados já frequentou uma escola ou uma creche na vida. No entanto, apenas um dos moradores tem ensino médio completo e aproximadamente 35% não sabe ler e escrever.

O censo também demonstrou que apenas 33,3% são naturais do Distrito Federal. Os outros 66,7% vêm de estados como Bahia (33,3%), Goiás (14,6%) e Paraíba (8,3%). Além disso, 87,5% se consideram pardos ou negros.

(Fonte: ESTAT Consultoria) (Arte: Campus Online)

“Sempre passava por lá e via eles”

A pesquisa surgiu como uma forma de promover um debate sobre o tema e assim ajudar essa comunidade de moradores de rua que vive perto da UnB. O idealizador e coordenador do censo, Gabriel Reis, disse que sempre passava pelos moradores e pensava sobre o que poderia ser feito por eles.

No início não foi fácil para Reis, e ele teve o trabalho de convencer a empresa júnior. No entanto, a reflexão do papel social da empresa e a repercussão tiveram resultados positivos e, hoje, a ESTAT tem um departamento social.

Gabriel conta que os estudantes “não iam de mão abanando”. Depois da estruturação de como seria feito a pesquisa, os empresários juniores reuniram doações e foram entrevistar os moradores, que ganharam um lanche depois de responder o questionário.

Um dos dados coletados que mais chamou atenção do coordenador foi o tempo de que os moradores viviam naqueles locais. O censo demonstra que 36,2% das pessoas entrevistadas tem mais de 5 anos vivendo no entorno da UnB, sendo que 8,5% tem mais de 20 anos morando nestes locais.

“O que me chamou muito atenção é exatamente o tempo que eles estão lá. A gente teve até que fazer uma adaptação no questionário [...]. Inicialmente a gente tinha elaborado períodos de tempo curtos: até um mês; entre um e seis meses; mais de um ano. Mas quando fomos lá, as respostas foram, por exemplo, mais de 10 anos, mais de 20 anos, que as pessoas estão naquele local. Não é nem na rua, é naquele local. Então, isso impressionou muito.”

Para o futuro, outra pesquisa já está em andamento. Dessa vez, os estudantes da UnB é que serão questionados, mas Reis disse que não pode divulgar por enquanto. “É uma pesquisa com alunos da UnB. A gente não pode divulgar ainda, mas daqui a pouco ela estará disponível aí para todo mundo”, informou Reis.

Doações e Respostas

Ao Campus, a UnB informou que “não há uma iniciativa permanente a esse respeito”. Além disso, a instituição disse que não tem nenhum levantamento institucional de projetos acadêmicos que ajudam moradores de rua.

O Campus também procurou a Secretaria de Estado do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH), do Governo do Distrito Federal, responsável por cuidar das pessoas que moram nas ruas. No entanto, a pasta não havia respondido aos questionamentos até o momento da publicação desta reportagem.