Comportamento
Quase metade dos estudantes da UnB apresentam sintomas de depressão
Estudo sobre saúde mental acende alerta amarelo. Além de depressão, alunos também enfrentam ansiedade e transtornos alimentares

Pesquisa realizada em julho com estudantes da UnB mostrou que quase metade dos participantes apresentam sintomas de depressão. O estudo inédito, feito pela Comissão de Saúde Mental, contou com a participação de 4.026 estudantes que responderam cinco perguntas abertas e anônimas sobre temas ligados à universidade. Quase metade dos alunos afirmou sofrer com depressão e ansiedade e 12% apresentaram indícios de distúrbios alimentares. Termos como “prazos”, “ciência”, “aula”, “professor”, “cálculo” e “monografia” aparecem como as principais fontes de sofrimento dos alunos.

A depressão em estudantes aparece na forma de pressão, seja para entrar no curso que os pais desejam ou depois de formado, para ter colocação profissional ou formar dentro do prazo inicial, entre outras “exigências” que fazem parte do meio acadêmico. Os sintomas iniciais de que algo está errado é a desmotivação. O aluno perde interesse em ir as aula, de participar das atividades, não tem vontade de se formar ou não se vê mais como o profissional que imaginava que poderia ser. Esse sentimento de desânimo, muitas vezes, evolui para a ansiedade e depois para depressão.

O estudante de Psicologia da UnB, M.,convive com o diagnóstico de depressão desde os 8 anos de idade. M. cresceu em uma família instável, onde presenciou episódios de violência doméstica desde pequeno. Como sua família também não via a importância de levá-lo em um psicólogo, seu quadro foi piorando cada vez mais.

M. iniciou tratamento aos 18 anos, chegou a tomar antidepressivos e melhorou por um certo tempo. Entretanto, passou a negligenciar a terapia e interrompeu os remédios, o que o fez a entrar em um quadro ainda pior. “Foi a minha pior fase. Foi ali que, olhando pra trás, percebo a importância de procurar ajuda”, disse. “Estava sem esperanças. Sentia que não podia confiar em ninguém.”

“Comecei a conversar mais, aos poucos, com uma grande amiga. Ela me escutou bastante e, pela primeira vez, senti que podia falar sobre meus problemas sem medo”, disse M. “Outro fator importante foi uma tia minha, que é psicóloga e percebeu como eu estava. Ela marcou uma consulta pra mim com um psiquiatra que ela conhecia e confiava”.

O tratamento não trouxe efeitos imediatos. Foi preciso de muitas sessões e testar alguns remédios até M. apresentar melhoras. Entretanto, com o tempo, seu quadro foi se estabilizando e, com isso, sua motivação para fazer as coisas simples do dia a dia foi se restabelecendo.

“É difícil dizer o motivo que me fez procurar ajuda. Depressão é uma doença que vai te destruindo sem deixar resquícios”, continuou M. “Eu gostaria de poder dizer pras pessoas que elas não são definidas pela doença que elas têm, que tudo sempre pode melhorar. Acho que por isso optei por fazer Psicologia.”

"Depressão é uma doença que vai te destruindo sem deixar resquícios”

Hoje M. ainda toma antidepressivos e envia relatórios semanais para seu psiquiatra, contando como foi sua semana. “Pela primeira vez em muito tempo me sinto bem. Depois de anos passando o que eu passei, tudo que quero é poder ajudar os outros como me ajudaram”, declarou.

Tratamento psicológico e acolhimento na universidade

A UnB oferece atendimento psicológico aos estudantes através do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (Caep). Ele é vinculado ao Instituto de Psicologia (IP) e sediado em espaço próprio. Os atendimentos acontecem não só para alunos de graduação e pós-graduação, como também para a comunidade externa de baixa renda. Por dia, são realizados o máximo de 264 atendimentos. Os agendamentos são feitos sempre às segundas-feiras, pelo telefone (61) 3107 1680.

Rodas de conversa e acolhimento são realizadas pela Diretoria da Diversidade (DIV) da UnB. Em parceria com diferentes departamentos e serviços de apoio, os encontros são realizados com a presença de profissionais especializados em relações sociais e sofrimento psíquico.

Semana Universitária tem dia dedicado à saúde mental

A semana universitária na UnB acontece entre os dias 24 e 28 de setembro e hoje, quarta-feira 26, é um dia dedicado à saúde mental. Serão oferecidas atividades gratuitas e abertas à comunidade para promover o bem-estar, com sessões de tai chi chuan, biodança, meditação, automassagem, ioga, palestras e rodas de conversa completam a programação.

Nesta terça-feira (25), o monge Ademar Kyotoshi Sato participou de uma roda de conversa e meditação no ICC Norte. O diálogo abordou as fases da vida e resiliência para viver as dores e alegrias de cada etapa, a partir da filosofia budista.