Neste domingo (20), uma forte chuva atingiu a Universidade de Brasília e provocou alagamentos em diversos pontos do campus. O subsolo da ala norte do ICC foi o mais afetado e, três dias depois, ainda estava em fase de limpeza e avaliação dos prejuízos.

Em nota, a Reitoria afirmou que, após um alagamento semelhante em 2011, diversas medidas foram tomadas para melhorar o escoamento de água. Entre elas, a troca de tubulações e a correção de obstruções na rede de águas pluviais. Além disso, houve o fechamento dos vãos de iluminação do ICC Norte. Porém, havia ainda quatro vãos abertos e foi por eles que a água entrou.

Vãos no Centro Acadêmico de História. (Foto: Giulia Soares/Campus Online)

Segundo a universidade, não é possível estabelecer se esses vãos nunca foram fechados ou se foram reabertos. A Prefeitura fez o fechamento desses quatro ainda na segunda-feira, em alvenaria.

Os vãos que ainda estavam abertos eram os das salas dos Centros Acadêmicos de História e Filosofia, da sala de pesquisa da pós-graduação em Antropologia e a sede da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social (ABEPSS).

Sala da ABEPSS depois do alagamento. (Foto: Giulia Soares/Campus Online)

A ABEPSS é uma entidade nacional que coordena a formação acadêmica em Serviço Social há 80 anos. O prejuízo financeiro foi com o patrimônio perdido – os computadores, impressoras, mesas e cadeiras –, mas a maior perda é histórica. A água levou documentos datados de, por exemplo, 1950, que estavam começando a ser digitalizados, um acervo de livros, revistas e fitas VHS que contavam com fotos históricas. “A sociedade ainda não tem noção do quanto que o serviço social brasileiro perdeu com essa enchente”, lamenta a professora Valdenízia Peixoto, chefe do departamento.

Professora Valdenizia mostra os documentos históricos em processo de secagem. (Foto: Giulia Soares/Campus Online)

Alguns foram embora com a chuva, porém os documentos e livros que conseguiram ser resgatados estão passando por secagem e limpeza. As revistas não passarão pela recuperação, pois já existem em PDF. A professora Valdenízia ressaltou que todo este trabalho está sendo feito pelos próprios professores e alunos, com materiais que eles mesmos compraram.

Documento de 1955 foi molhado. (Foto: Giulia Soares/Campus Online)

Ela busca apoio do Arquivo Central da UnB e do departamento de Arquivologia, além da administração da universidade. “Eu acho que a sala da ABEPSS deveria ter uma atenção, um respeito, um cuidado maior e até agora não recebemos nenhum contato da Reitoria”, afirma Valdenízia. Até o fechamento desta matéria, a chefe do departamento ainda não havia conseguido audiência com a Reitora para avaliar os danos.

O Centro Acadêmico (CA) de História perdeu seis sofás, dois microondas, uma geladeira, uma TV e diversos materiais que estavam na sala de estudos. O CA de Filosofia perdeu cinco sofás e um ar condicionado, além de toda a parte elétrica. O prejuízo financeiro ainda não foi calculado, mas todos os estudantes estão se mobilizando para arrecadar verba e doações. A estudante Carol Ribeiro, de História, relata que nessa sexta-feira acontecerá um mutirão de limpeza, levando em conta o cheiro forte que ficou no CA após o ocorrido.

Centro Acadêmico de História depois da limpeza. (Foto: Giulia Soares/Campus Online)

Os estudantes também reclamam que a solução da Prefeitura de tapar os vãos tirou a única entrada de ar que os CAs tinham. Eles pedem para que, junto com um engenheiro ou arquiteto, seja tomada uma medida efetiva para melhorar o escoamento da água.

Os estudantes da pós-graduação em Antropologia perderam livros, uma geladeira, um microondas, mesas e cadeiras. Por conta da falta de estrutura, suas aulas da semana foram suspensas.

Entulho da sala de pós-graduação em Antropologia. (Foto: Giulia Soares/Campus Online)

Já para as equipes de limpeza, sobrou trabalho. Antes do corte de gastos que ocasionou na demissão de dezenas de funcionários: 144 serventes de limpeza e 3 encarregados para a supervisão de todo o ICC, passaram a ser 60 serventes e apenas 1 encarregada.

A única encarregada pelo ICC, Maria Elizelda, em entrevista, contou ao Campus que a rotina está bastante puxada. As quatro equipes de lavagem do ICC ainda estavam trabalhando nas áreas comuns do prédio, na quarta-feira, para a retirada de toda a lama. Por conta disso, algumas lavagens de departamento tiveram que ser canceladas. Funcionários de outros prédios também tiveram que auxiliar esse trabalho durante a semana. Ainda assim, Maria Elizelda diz que o recolhimento dos lixos e a limpeza dos banheiros e corredores não foi prejudicada.

Lixo acumulado no subsolo depois da limpeza. (Foto: Giulia Soares/Campus Online)

A Prefeitura da UnB garante que todas as bocas de lobo estão limpas, o sistema de drenagem da instituição possui bom funcionamento, e que o problema decorre da carência desse sistema em toda a Asa Norte. Como a universidade fica numa baixada, acaba recebendo grande volume de água e não consegue dar vazão à enxurrada.