Cidade
Em sua segunda edição, o Fórum Internacional sobre a Amazônia acontece na UnB
Evento ocorre em meio a Semana Nacional do Meio Ambiente, com participantes buscando novos olhares sobre o maior bioma do mundo

"A região amazônica forma um imenso mosaico, de culturas, de línguas, de povos e nações". Essas palavras são de Dom Evaristo Spengler, um dos palestrantes presentes no primeiro painel da segunda edição do Fórum Internacional sobre a Amazônia (FIA), sediado na Universidade de Brasília (UnB) de 4 a 7 de junho.

Organizado pelo Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAz), o FIA busca trazer importantes olhares sobre a Amazônia brasileira e continental, no sentido de contribuir na construção do conhecimento científico e valorizar saberes.

Com a participação estimada de 300 professores, pesquisadores, técnicos administrativos, estudantes, povos indígenas, comunidades tradicionais, movimentos sociais e sindicais, além de outros interessados na temática abordada sobre a Amazônia; o Fórum conta com apresentações de trabalhos e pôsteres, rodas de conversa, oficinas e atividades culturais diversas, como um sarau amazônico e uma feira de produtos da Amazônia.

Na constituição das mesas dos quatro painéis (Amazônia num Contexto Global; Conflitos Socioambientais na Amazônia; Educação, Saberes e Tecnologias na Amazônia; e Desafios e Alternativas para a Amazônia) do evento e do plenário é notória a intenção de diversidade no que se refere à nacionalidade, formação acadêmica ou a simples vivência da temática trabalhada, visando um intercâmbio de ideias o mais plural possível.

"A ideia é ter essa visão geral da Amazônia, de contexto, conflitos, ciência, tecnologia e saberes. Em cada mesa há um membro de um movimento social, porque a gente acha que esse debate passa muito pelas populações que estão organizadas", disse Enaile Iadanza, pesquisadora e professora no NEAZ.

Para Iadanza, o diferencial em relação à primeira edição, ocorrida em 2017, é o da conjuntura: "A gente está em uma conjuntura muito pior, a Amazônia está muito mais ameaçada. No primeiro Fórum, por exemplo, a gente não tinha um debate sobre conflitos e, quando se acirram os conflitos no campo em relação aos camponeses, agricultores e latifundiários, a Amazônia é quem mais sofre, onde há mais povos indígenas".

Ela afirma que a necessidade de ocupação de territórios, extração e matança de indígenas por fazendeiros se faz notória. "Então, a gente achou que deveria [incluir os conflitos], inclusive foi uma reivindicação dos movimentos presentes no Fórum, a questão do debate dos conflitos".

Representatividade Indígena

"Eu acredito que a importância do Fórum é você unir, unir entidades, parlamento, universitários, a própria universidade. É você ter uma diversidade de pessoas, de instituições, de movimentos, em prol do bioma Amazônia", afirma Kretã Kaingang, líder indígena brasileiro e um dos fundadores da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil

Em sua primeira participação no Fórum, Kaingang ressalta que suas impressões foram positivas: "o que consegui visualizar hoje foi esse conjunto de pessoas que têm essa preocupação [para com a união pela Amazônia], porque hoje a Amazônia não é só um bioma do Estado Brasileiro, hoje ela é importante para o mundo.

Kaingang ressalta ainda a importância da proteção da Amazônia e do papel dos povos indígenas nesse cenário: "(...) o mundo todo tem que se preocupar com a sua proteção. E nós, povos indígenas, como povos originários, independente da região em que estivermos, também temos que ajudar nesse apoio, temos que unir nossas forças a nível nacional para defender a região amazônica".

'Uma trajetória de perdas e danos'

É dessa forma que Dom Evaristo Spengler, representante da Rede Eclesial Pan-Amazônica (rede à serviço da vida na Amazônia), descreve a história da região amazônica em sua participação no painel Amazônia num Contexto Global. Segundo ele, o bioma amazônico continua, na visão de muitos, como um celeiro de riquezas, que são levadas 'para fora', devido a uma 'ideologia neoliberal'.

Em sua linha narrativa, a Amazônia acaba vítima de 'sua própria magia, de sua diversidade', onde de um lado há a visão hegemônica e colonizadora, que explora muitas vezes de maneira irresponsável e imediata a floresta e os povos que nela habitam, e do outro, povos indígenas, para os quais a terra representa vida e 'sem ela não podem existir.'

Spengler ressalta ainda que o modelo de 'exploração irracional', impulsionado pelo capital, gera lucros que nem sempre beneficiam os brasileiros e a população amazônica em si, citando o fornecimento de energia elétrica como exemplo.

Na sua visão, a permanência de comunidades que sabem viver com os recursos da natureza, lutam pela defesa dos lagos e contra os extrativistas, além de cientistas que 'pacientemente aprofundam conhecimentos sobre a comunidade amazônica e os devolvem a população' constituem o chamado 'projeto bem viver', o 'lado bom' desta realidade. Ele ainda reforça:

"Os povos indígenas são a semente de solução para a humanidade e para o planeta."