Com o intuito de relembrar a história e apresentar à comunidade externa o que é produzido na UnB, no começo deste mês foi criada a Comissão UnB nos 60 anos de Brasília, que, por meio de uma consulta pública, pretende coletar sugestões de ações que serão oferecidas durante os 60 anos da Cidade.
Um dos objetivos desse projeto, segundo professor e secretário executivo da Comissão, Paulo César Marques, é apresentar à comunidade a história e a importância que a UnB tem para Brasília: “Mostrar a história que a Universidade tem, como que a Universidade foi se transformando espacialmente, em uma proporção que acompanhava a transformação da cidade, e qual é a representação histórica que isso tem. Trazer e valorizar isso para a comunidade interna e externa, como parte da história de Brasília, é o intuito da Comissão”, explicou ele.
Paulo César Marques relembrou momentos marcantes para a história de Brasília em que a UnB fez parte, essa é uma das metas da Comissão, contar para a população as narrativas por trás dos locais que fazem parte da Universidade, os chamados “marcos temporais”, de acordo com Paulo César Marques: “Existem esses marcos temporais, marcos que marcam”, declara. Um exemplo de um acontecimento histórico conhecido que ocorreu nas imediações da Universidade foram as invasões militares durante a ditadura militar. Uma delas aconteceu na quadra de esportes, próxima a Faculdade de Educação, onde alunos e professores foram levados, interrogados e por militares sob a acusação de serem subversivos. O documentário Barra 68 - Sem Perder a Ternura (2001) do cineasta Vladimir Carvalho, narra por meio de depoimentos e imagens, como a universidade sofreu durante esse período.
Outro marco que a universidade deixou na cidade, ainda durante os primeiros anos de funcionamento, foi o colégio de aplicação, Centro Integrado de Ensino Médio da Universidade de Brasília (CIEM) que funcionou dentro do complexo do Hospital Universitário (HUB/UnB). Os alunos de licenciatura da universidade faziam estágio ministrando aula para alunos do ensino médio. “Era um colégio de qualidade destacada. Boa parte dos brasilienses daquela geração estudou ali”, disse Paulo César.
A comissão também busca promover as atividades que são feitas na Universidade de Brasília para a comunidade brasiliense. “O que ela representa para a cidade em termos de produção de conhecimento, produção cultural, as atividades de extensão, os serviços que a Universidade presta à sociedade brasiliense” diz o secretário.
A história da universidade se entrelaça com a de Brasília
Em 21 de abril de 1962, exatos dois anos após a fundação da capital federal, a Fundação Universidade de Brasília é inaugurada. A ideia de uma universidade livre e autônoma se originou das brilhantes mentes do antropólogo Darcy Ribeiro e do educador Anísio Teixeira. O espaço reservado para a construção da universidade, no Plano Piloto, próximo a Esplanada dos Ministérios, fez com que o processo de criação da universidade demorasse. As autoridades da época temiam que os estudantes interferissem nos assuntos políticos da cidade. Contudo, em 15 de dezembro de 1961, foi sancionada a Lei 3.998 de criação da universidade. Alguns meses depois, aconteceu o primeiro vestibular, e logo após a inauguração, as aulas começaram. As primeiras salas de aula foram no primeiro prédio da reitoria que se encontrava no prédio atual da Faculdade de Educação.
As bases da instituição pensada por Darcy Ribeiro não são mais as mesmas, porém o aprendizado multidisciplinar permanece. A professora e doutora em Comunicação, Márcia Marques, ressalta a importância do aprendizado multidisciplinar oferecido na Universidade: “O espírito de liberdade de escolha e também a possibilidade de um aprendizado multidisciplinar, interdisciplinar representam o espírito desta nossa universidade, onde nenhum aluno sai com currículo igual ao do outro. Não somos uma fábrica de formação de excelentes técnicos de nível superior. Somos uma universidade, capaz de formar aqueles que podem ajudar a sociedade a vencer seus problemas complexos”.
São 57 anos de muita luta e resistência. Durante esse período a universidade se desenvolveu e se multiplicou em mais três campi nas cidades satélites do Gama, Planaltina e Ceilândia. Foram criados o Hospital Universitário e os Hospitais Veterinários que atendem a população brasiliense, contribuindo de várias formas para o crescimento, principalmente na educação e conhecimento científico do país.
A evolução da universidade aconteceu junto com as transformações que aconteceram em Brasília. Para a professora Márcia Marques, a contribuição que a universidade deixa marcada na história é a própria existência: “A contribuição é sua própria existência. Uma capital que nasce com uma universidade que tem como projeto construir um arcabouço do pensamento brasileiro, que refletisse a rica diversidade do país”.
O alicerce de toda universidade é o ensino, pesquisa e extensão, a UnB é referência em qualidade de ensino dentro e fora do país. No começo deste mês, a universidade foi ranqueada como a 8ª melhor universidade do país, uma conquista de toda a comunidade acadêmica.
Nos últimos anos, com o sucateamento e os frequentes ataques que todos os níveis da Educação estão sofrendo, principalmente o ensino superior, torna-se imprescindível defender e reafirmar o valor do ensino público e de qualidade, descrito na Constituição Federal. Para Márcia Marques: “Neste momento é muito importante reafirmarmos o valor do ensino público básico e superior de qualidade para a sociedade, como direito social, inclusivo. Só seremos autônomos se formos capazes de ser donos de nossos destinos, o que só é possível por meio da educação e da cultura”.
A consulta é aberta a todos, alunos da universidade ou não. Você pode enviar sua sugestão através do formulário online até o dia 7 de outubro de 2019. As sugestões de ações serão avaliadas pela comissão e serão realizadas durante o ano de 2020.