Universidade
Projetos da UnB incentivam a entrada de meninas nas áreas de exatas

Na Universidade de Brasília (UnB), as mulheres são maioria do corpo discente, isto é, representam mais da metade dos estudantes de graduação e pós-graduação. Mesmo assim, no que compete às ciências duras, as mulheres representam menos da metade das vagas, apenas 45%. Das treze universidades que ofertam cursos desta área, em apenas cinco as mulheres são maiorias, o número chega a ser gritante na Faculdade do Gama (FGA), na qual só ofertam engenharias, o números de homens matriculados chega ser quatro vezes maior que o número de mulheres, segundo dados do Anuário Estático da instituição.

Estudante da FGA, Catarina Oliveira, ressalta que o maior número de mulheres no campus está no curso de Engenharia de Energia, e pelo levantamento do Diretório Acadêmico em 2017, haviam apenas 15 mulheres na Engenharia Automotiva, e isso serviu de incentivo para cursar a habilitação. “Eu já Já fiz matéria com 120 alunos e 17 eram meninas e também já fiz matérias em que eu era a única mulher na sala.” A estudante conta que seu pai é Engenheiro Civil, o que contribuiu em sua escolha por Engenharia, mas foi quando conheceu o Projeto Piratas do Cerrado, equipe de competição de veículos off-road da Engenharia Mecânica da UnB, que se apaixonou pelas áreas automotiva e mecânica.

Na busca de abrir mais espaços paras mulheres nas ciências exatas, projetos de extensão da UnB, propõem incentivar meninas de escolas públicas do Distrito Federal e Entorno a se interessarem pela área, como é o caso do projeto Meninas na Computação, Meninas.comp. Criado em 2010, por professoras do Departamento de Computação, tendo como objetivo promover o ensino de tecnologia para meninas e ampliar o número de mulheres na graduação.

Analisando que a quantidade de mulheres na sala de aula era mínima, o projeto atua semanalmente em onze escolas, inicialmente apenas ensino médio e depois atuando também no ensino fundamental, “percebemos que era muito tarde no ensino médio, porque muitas dessas meninas já vem com influência da sociedade, definindo um padrão que não as encaixam, ‘não é coisa de menina’, então o projeto vai até essas escolas para elas terem uma noção do profissional da área de computação, para que elas possam colocar o curso como possibilidade de profissão, ou se não optarem por computação, que seja de forma clara, não por falta de conhecimento.”

Com oficinas de programação e desenvolvimento de softwares e robótica, o projeto é desenvolvido na abordagem STEM (Science, Technology, Engineering e Mathematics; em português, Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), esta visa a capacitação de professores e profissionais e o desenvolvimento de oficinas criativas para que as estudantes possam resolver desafios propostos de forma prática, e sejam direcionados para as áreas de STEM. Este movimento pedagógico, busca modificar a forma de ensino tradicional, estimulando a curiosidade e a participação das estudantes.

O projeto Meninas Velozes da Faculdade de Tecnologia, também utiliza abordagem STEM para incentivar o ingresso de estudantes do Centro de Ensino Médio 404 de Santa Maria na área de exatas. Desenvolvido em 2013, por professoras de Engenharia Mecânica, o projeto surgiu da inquietação na disparidade do número de mulheres nas engenharias, 20% do total de matriculados. Hoje o projeto também conta com o apoio de outros curso, como Psicologia, Ciências Sociais e Jornalismo.

A Professora Doutora do Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Tecnologia, Dianne Magalhães, é a coordenadora do projeto, ressalta que as mulheres não são incentivadas o suficiente a optarem por essas áreas, porque tradicionalmente mulheres são associadas às áreas de cuidado, fazendo com que esta seja uma opção natural de escolha, “isso pode ser percebido no curso de Engenharia Mecânica, do qual sou docente, o percentual de mulheres em 2017 foi de aproximadamente 15%. Em uma turma de 45 estudantes isso representaria 6 estudantes, o que é condizente com nossa realidade”, ressalta.

Abordando as questões de gênero que podem afastar as jovens do ambiente escolar, o Meninas Velozes propõe incentivar as estudantes a continuar os estudos e ingressar na graduação tendo a área de exatas e engenharias como opções. Kássia Glenda, foi umas das estudantes que participou do projeto no ensino médio e hoje, estudante de Engenharia Florestal, atua como monitora do projeto “conversar com as meninas (as monitoras) ajudou a mostrar que era possível entrar no meu curso, mesmo sabendo que ia ser difícil. Hoje poder orientar as meninas e mostrar as possibilidades da UnB, o que ela pode te oferecer o que você pode conhecer, é incrível compartilhar um pouco do que sei.”

Antes de entrar no projeto, Kássia, não conhecia suas possibilidades de graduação “Ninguém da minha família era voltado para a área ou conhecia a UnB. Eu sabia que queria entrar na universidade e que seria nas exatas, antes do projeto tudo o que eu sabia era pela internet”, afirmou. Ainda sim, a estudante não estava preparada para a experiência de entrar numa sala de aula e observar que todos os alunos presentes eram homens, como afirma que ocorreu no Laboratório Experimental de Física 2.

Ser mulher representa o trabalho árduo e a constante busca pela quebra de paradigmas patriarcais, na luta para obter reconhecimento dentro do âmbito familiar, acadêmico e profissional. “É complicado. Moro há 40 KM da faculdade e tem perrengue até na hora de pegar o BRT para chegar. Ser garota na FGA é ter muita perseverança e coragem. Tem que lidar com caras te desmerecendo o tempo todo, sejam professores ou alunos,” expressa, Catarina. As mulheres têm ocupado cada vez mais espaços que antes eram preestabelecidos para estereótipos de gêneros e isto representa vitória para todas as mulheres e acende a esperança de um futuro feminino.

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Matheus Marques