Dos programas de intercâmbio e internacionalização oferecidos para estudantes e pesquisadores da Universidade de Brasília, apenas o Programa de Mobilidade Acadêmica Regional (MARCA) sofreu cortes. As ofertas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC) e responsável pelo controle e distribuição das bolsas, por enquanto, não tiveram redução.
Segundo a Assessoria de Assuntos Internacionais da Universidade de Brasília (INT/UnB), até o ano passado, o programa MARCA oferecia 6 bolsas por ano para alunos de graduação na UnB dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária e Enfermagem estudarem em universidades de outros países da América do Sul. Em 2019, após mais de 10 anos de programa, foram cortadas 4 bolsas anuais.
“A gente tinha 6 bolsas de mobilidade, mas essas bolsas, na verdade, atingem 12 pessoas, por que a bolsa paga a viagem de um estudante nosso para ir e o país que recebe o aluno paga a vinda de um estudante à UnB. É como se fossem 12 bolsas. Nesse ano, passou de 6 para duas bolsas”, afirmou Leonardo Souza, assistente de direção da INT/UnB. “Não é um programa muito grande, mas, em termos percentuais, passamos a 33 por cento das bolsas.”
De acordo com Leonardo, a redução na oferta de bolsas afeta a relação com outras universidades: “Essas relações vinham sendo duradouras, então os cortes ameaçam essa cooperação a longo prazo”.
Desde março de 2019, o MEC tem promovido uma política de cortes de bolsas de pesquisa como parte do programa de contingenciamento de gastos do governo federal. Segundo dados do ministério, após cortes e liberações, foram bloqueadas 7.590 bolsas para programas de mestrado, doutorado e pós-doutorado no país. De acordo com o órgão, esses cortes não afetaram ainda as bolsas do PrInt, o Programa Institucional de Internacionalização para estudantes e pesquisadores de pós-graduação.
Isabela Cardoso é aluna de mestrado em Biotecnologia da UnB e está participando de um programa de capacitação internacional do PrInt na França. Para ela, que também participou de programa de intercâmbio durante a graduação, estudar fora do país contribui para o lado profissional e para o pessoal. “Na minha área, que é acadêmica, essa cultura de intercâmbio aumenta a qualidade, a relevância e o impacto dos nossos nossos trabalhos e das nossas pesquisas. Sem essa colaboração para ver o que está sendo feito, para aprender novas técnicas, fica difícil da gente progredir”.
Sobre o lado pessoal, ela afirma: “Como pessoa, a questão de trocas culturais é muito importante, ter contato com outros pontos de vista. Me ajudou muito também na parte de comunicação em outras línguas, o que é essencial na área acadêmica”. A mestranda também falou da importância da troca de contatos: “O networking que fiz com professores e profissionais de outros países, de instituições renomadas na minha área, pode se tornar alguma parceria de pesquisa no Brasil”.
Ela recebia uma bolsa de pesquisa da CAPES, mas deixou a bolsa para participar do programa internacional. Quando voltar após os 4 meses de curso, não sabe se vai conseguir outra bolsa como pesquisadora por causa dos cortes.
“Eu fico com receio de voltar e não ter mais bolsa. São os nossos salários. Se a gente não recebe essas bolsas no final do mês, a gente não tem como continuar na pesquisa, a gente não consegue se manter”, afirmou a pesquisadora.