Na tarde da última sexta-feira (27), a Faculdade de Educação (FE) promoveu uma roda de conversa para fechar a programação da Semana Universitária na unidade. O evento visava apresentar uma pesquisa de mestrado que consiste em analisar a implantação da Política de Ações Afirmativas pelo Programa de Pós-Graduacão, buscando uma reflexão dos estudantes sobre a situação atual no Brasil e na UnB, mais especificamente, na Faculdade de Direito (FD) da instituição.
Moderou o debate a mestranda do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares (CEAM) Kelly Martins Bezerra. A estudante escolheu começar sua fala destacando o pioneirismo da UnB ao aprovar o regime de ações afirmativas na graduação, em 2003, e na pós-graduação, em 2013. Atualmente, o sistema de cotas está implementado em 17 de 98 cursos da universidade.
A conversa continuou com uma referência rápida ao histórico da educação superior brasileira. “O Brasil está assentado em privilégios sociais, principalmente na educação, que conferiu privilégios para a população branca ao longo dos séculos”, afirmou a mestranda. Segundo pesquisas mostradas, a educação teria sido o principal mecanismo de aferição de privilégios e perpetuação das desigualdades na história do país.
Em outro momento do debate, Kelly Martins fez uma análise de dados do sistema de cotas no que diz respeito à origem, ao gênero, ao perfil socioeconômico e ao desempenho dos candidatos ao Programa de Pós-Graduação em Direito (PPGD), que, segundo a estudante, são os pilares mais importantes para discutir esse tema. Foram apresentados também dados sobre as ofertas de vagas ao longo dos anos e sobre a comissão de bolsas e sua atual situação perante os recentes cortes de verbas.
Um dos dados que chamaram a atenção dos presentes foi o grau de escolaridade dos pais dos candidatos do PPGD, uma vez que se demonstrou ser uma condição de alta relevância para a aprovação no programa. Além disso, o fato de que a média geral de desempenho se equivale entre os candidatos cotistas e os candidatos do sistema universal, apesar das condições serem bastante desiguais, chocou os participantes.
A roda de conversa foi finalizada com Kelly Martins fazendo uma ressalva à importância das ações afirmativas. “Foram no Brasil uma revolução silenciosa”, constatou. A mestranda terminou sua fala pedindo que os estudantes defendam a universidade pública. “A universidade está em um momento de desmonte e ataque, temos que estudar o sistema para ter ferramentas para ir ao debate”, afirmou.
Os estudantes presentes se mostraram estimulados com a conversa. Ananda Andrade, 20 anos, estudante de Arquivologia, disse achar ser muito importante conhecer a situação da universidade em que estuda. “É necessário conhecer mais a causa e poder defendê-la direito. O debate abriu meus olhos”, disse.
Texto e imagem por Beatrice Mesiano, aluna da disciplina Apuração e Texto Jornalístico 1, sob supervisão e revisão do professor Solano Nascimento.